01/05/2013

Claquete: A relação de Gonzagão e Gonzaguinha.




CLAQUETE
A relação de Gonzaga e Gonzaguinha

Por: Fernanda Pompermayer
Título Original: Gonzaga – De Pai pra Filho
Direção: Breno Silveira
Produção: Brasil, 2012
Com: Júlio Andrade, Chambinho do Acordeon, Adélio Lima

Por mais que o aspecto documental seja importante para sustentar uma cinebiografia, o diretor Breno Silveira optou por um caminho mais romanceado ao se aproximar da história de Luiz Gonzaga. Sua principal fonte foi o livro de Regina Echeverria, que relata a turbulenta relação entre o Rei do Baião e seu filho, Gonzaguinha. Em quase toda sua extensão, os diálogos e cenas tratam do abandono do menino que também virou ídolo nacional.
O filme caminha sobre dois eixos centrais: o do passado, apresentado em flashbacks, dedicado a capturar a trajetória do músico e retirante nordestino; e o do presente, quando o filho se aproxima do pai, em busca de uma reconciliação. Ambos são contaminados por sentimentos de nostalgia e de dor.
O filtro estético aplicado é plástico, não arde aos olhos, mesmo quando o sertão do Exu é deflagrado. Assim como em 2 Filhos de Francisco, Silveira quer arrebatar o seu espectador a qualquer custo. Não deixa espaços para realismos e sugestões. Tudo é talhado para emocionar, do começo ao fim.
A possível ausência de Gonzaga como pai, ao deixar a educação de seu primeiro filho com a comadre Dina, é explicado no longa sob dois vieses: o dos compromissos extenuantes de trabalho e o da perda da mãe original, falecida por conta de uma tuberculose. Há ainda o fato de Gonzaguinha não ser o seu filho biológico. Na história real, o sanfoneiro sabia que era estéril, mas havia se comprometido em cuidar da criança quando Odaléa morreu. No filme, a dúvida permanece até o final.
Luiz Gonzaga é interpretado por três atores diferentes, mas é Chambinho do Acordeon que rouba a cena, em grande parte pela sua habilidade no manejo da sanfona. O papel de Gonzaguinha ficou sob a responsabilidade de Júlio Andrade. Apesar da performance soberba, vemos um Gonzaguinha choroso demais.
Comovente, a película tem como principal mérito o aspecto musical, ao mostrar como esse pobre sertanejo deixou a terra natal sob risco de morte e levou o som do semiárido para o mundo urbano. Ou melhor, como constituiu e difundiu em proporções nacionais uma linguagem única para a música regional nordestina. Sua convicção em sempre estar perto do povo é o que prova a genialidade de Luiz Gonzaga: rodou todo o Brasil para animar bailes e festas. Gostava de lugares abertos, não queria saber de teatros ou casas mais estruturadas.
O filme volta a apresentar esta beleza ímpar do sertão ao mundo das cidades. Uma reconciliação musical tão importante quanto foi a de Gonzaga com Gonzaguinha.


Emanuel Bomfim
emanuelbomfim@cidadenova.org.br

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