01/05/2013

Claquete: As Aventuras de Pi


CLAQUETE
As Aventuras de Pi

Por: Emanuel Bomfim
Título Original: Life of Pi
Direção: Ang Lee
Produção/Ano: EUA/2012
Com: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain

É um engano achar que o 3D veio para dar maior realismo ao que se vê na tela, como se pudesse reproduzir com precisão a visão humana. Em As Aventuras de Pi fica evidente qual pode ser sua vocação: o recurso é colocado à serviço da ficção, das imagens de cunho extraordinário. Adaptado do celebrado romance de Yann Martel, o longa reconstitui a jornada nada convencional do jovem indiano Pi Patel (Suraj Sharma). Após sofrer um naufrágio em alto-mar, enquanto se mudava com a família para o Canadá, ele fica à deriva no oceano Pacífico por 227 dias. Detalhe: em seu bote está um tigre de bengala, um dos animais que faziam parte do zoológico de seu pai e que seria vendido quando chegassem à América.
Em jogo, mais do que uma improvável sobrevivência, estão os dilemas existenciais vivenciados pelo rapaz em meio ao nada. Passam naturalmente por uma questão de fé e da reafirmação na crença em Deus. Do relacionamento com o tigre, extrai-se o impulso para continuar vivo: é preciso estar sempre vigilante.
Sensível às questões éticas colocadas pela obra original, Lee promove cenas espetaculares, epifanias e devaneios de Pi: o céu estrelado que se espelha no mar calmo, a baleia que se exibe, as centenas de peixes que habitam a vida marinha, a tempestade assombrosa que desafia o menino e seu tigre. Até uma ilha misteriosa, ao melhor estilo de Avatar, ganha forma na película.
Era difícil de imaginar que essa história, com elementos tão surpreendentes, pudesse fluir quando fosse para a tela. Mas aí entra o cineasta taiwanês Ang Lee, acostumado a operar em linguagens e gêneros distintos. Sua cinematografia é ímpar e valiosa. Ganhou destaque, inicialmente, com a “trilogia chinesa”, composta por A Arte de Viver (1992), Banquete de Casamento (1993) e Comer Beber Viver (1994). Depois, adaptou Jane Austen (Razão e Sensibilidade, 1995), e se embrenhou pela cultura americana no radical Tempestade do Gelo (1997). A sua consagração veio com o western O Segredo de Brokeback Mountain, que lhe valeu o Oscar de melhor direção. Antes de Pi, ele ainda ganhou mais um Leão de Ouro em Veneza com o oriental Desejo e Perigo, de 2007. É uma trajetória que mescla o cinema autoral com os modelos mais industriais de Hollywood.
Além de preservar os aspectos e muitos dos detalhes do livro sobre Pi, o diretor resgata com o filme a beleza de se contar uma grande história, uma aventura mais espiritual do que física. Reflexões sobre a passagem do tempo, a família, a religião, a morte, a natureza são dilemas que certamente irão mexer com o espectador: afinal, tudo isso pode ser verdadeiro? 
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