26/04/2016

Fãs de cinema buscam em videolocadoras o que não encontram na web ou na TV.

Acervo acessível, variado e dicas para escolher o filme certo são os diferenciais das locadoras que ainda resistem ao tempo e a tecnologia.

(Por Marcelo Perrone, colaboração de Rodrigo Azevedo, inclusão de trechos segmentados por Kyka Freitas)

 Fãs de cinema buscam em videolocadoras o que não encontram na web ou na TV Lauro Alves/Agencia RBS

Diante da fartura de opções para se assistir a um filme nas diferentes plataformas, as videolocadoras já não reluzem como tempos atrás. Dois terços delas desapareceram no Brasil nos últimos sete anos, em meio a um cenário de previsões catastróficas para o futuro desse negócio. A tradicional fonte de diversão para o fim de semana, porém, ainda não secou e nela seguem se abastecendo clientes fiéis.

Em um giro por locadoras de Porto Alegre, constata-se o novo perfil desse segmento e de seus consumidores: estão, na sua maioria, na faixa dos 30 a 40 anos, acham a programação da TV paga repetitiva, eventualmente vão ao cinema e não têm o hábito de baixar conteúdo da internet legal ou ilegalmente. 


No Estado de Sergipe, os dados são idênticos, as reclamações das programações se repetem a cada novo cliente dentro da locadora, além de que agora pra assistir os filmes mais novos, as operadoras andam cobrando uma suposta locação online denominada de "On-Demand", e, infelizmente a maioria dos clientes estão sim assistindo e baixando filmes pela web. 

Alguns destes clientes afirmam que vem a locadora pra procurar o que não encontram na TV por assinatura ou também por não localizar o filme pela web, sendo muitas vezes filmes recomendados por professores universitários na busca de uma melhor formação de pensamento e cultura em sala de aula.  A grande sacada está no acervo das videolocadoras, com variados títulos pouco comerciais, embora também tenham espaço para os blockbusters, o que faz esse tipo de atividade ainda estar sendo procurada por pessoas que gostam de assistir filmes e que optam por escolher que título quer levar.

Ter na linha de frente funcionários com conhecimento cinematográfico enciclopédico, capazes de identificar um filme procurado a partir de pistas fragmentadas, é item obrigatório no manual de sobrevivência das locadoras. Os filmes cult, clássicos e raros têm de estar à disposição dos clientes e na ponta da língua dos atendentes.

O público das videolocadoras está madurecendo culturalmente e a procura por clássicos igualmente. Antes, os locadores compravam um exemplar de O Sétimo Selo, agora compram 2. Já os carros-chefe que tinham 3, hoje são mantidos um ou dois na loja.

Segundo Eliane Kives (Espaço Vídeo): "entre as opções de lazer que se tem hoje, as locadoras ficaram para trás. Em dia de maior movimento, eram locados cerca de 800 itens. Hoje, não passa de 250. A gente se adaptou à realidade. Temos a feira permanente de usados e, uma vez por mês, abastecemos nosso acervo com filmes de colecionador. Abrimos esse espaço como forma de as pessoas terem os filmes prediletos de forma barata".

A locadora também segue na mira de quem investiu em um bom equipamento de imagem e som, quem comprou um sistema de TV e reprodutor de Blu-ray em 3D, chegam nas locadoras querendo as novidades e qualidade. Também tem os clientes que gostam de fazer maratonas de fim de semana, como a turma que no final de tarde de uma sexta-feira que busca assitir todos os 8 filmes do Harry Potter, ou a sequência completa do Sexta-feira 13. 
Remédios para evitar o fim das videolocadoras existem, têm sido testados e alguns mostram efeitos positivos, sobretudo nas lojas mais robustas e criativas. Mas ninguém arrisca dizer por quanto tempo. Nem os locadores sabem. Então a maioria dos seus donos, estão diversificando as lojas como meio de manter movimento dentro delas. 
Já sabemos que não existirá outra mídia física pós Blu-ray, afinal todas as opções hoje são online, nem se guardam mais arquivos e nem objetos, todos os ítens estão dispostos nas "nuvens". A pirataria já nem é tão relevante assim, as pessoas estão sem tempo e pra piorar as opções de entretenimento estão enxurrando a cabeça das pessoas e isso configura nas devoluções dos discos na segunda: "nem assisti" e por vezes o cliente levou apenas uma unidade e nem houve tempo de ver. 
O processo de adaptação faz com que algumas lojas ofereçam atrativos como cafeteria e venda direta, e reforcem a interação com os clientes. Tardiamente, as locadoras perceberam que o público gostava de comprar os filmes. Quando se deram conta de que isso não canibalizaria o sistema de aluguel, haviam ficado para trás dos grandes magazines. Sobre o futuro, especialistas não arriscam previsões, mas apostam que locadoras com acervo grande, diversidade de serviços e eficiência no corpo a corpo têm mais chances de seguir adiante. É o que está acontecendo.




Para Luciano Tadeu Damiani, presidente do Sindicato das Empresas de Videolocadoras de São Paulo (Sindemvideo), a crise no ramo é global. Ainda assim, vislumbra um horizonte de bonança aos que se adaptarem aos novos tempos: "Quem sobreviver vai ficar muito bem, porque aí você terá aquele consumidor que não se importa quanto paga, desde que tenha o filme que quiser ver".

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