15/08/2011

Filme A Árvore da Vida, levanta suspiros no cinema e te leva a uma viagem espiritual.

por Kyka Freitas (Administradora da Exxa Filmes)


“Existem duas maneiras de se viver: a maneira da natureza  e a maneira da graça, nós temos que escolher qual delas seguir,  então se um dia você cair e chorar: entenderá tudo!” (Terrence Malick)


Esse é o principal conceito do filme “A Árvore da Vida”, com Brad Pitt no elenco. Ontem fui ao cinema para asistí-lo, mas antes, reencontro no hall de entrada, um padre amigo meu, e ao ser questionada sobre que filme eu iria assistir, ele me diz: “eu também estou com muita vontade de assistir a este filme, mas precisa ser num dia que você não esteja cansado e que possa prestar muita atenção, porque o filme vai te mostrar um lado muito forte, o espiritual! É preciso estar aberto para isso!”

                                      

Justamente, ele tinha razão: “O filme mais religioso de Terrence Malick trata o contato com o mundo não como pecado, mas como redenção". (Marcelo Hessel) 



Segundo a Bíblia, a Árvore da Vida (verdadeira sabedoria) é uma das duas árvores especiais que Deus colocou no centro do jardim chamado Éden. A outra é a "Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal", de cujo fruto, Eva, e depois Adão, acabaram por comer por influência de uma serpente. (Gênesis 2:9)


O filme “A Árvore da Vida” oscila entre os anos 50 e um futuro não tão distante, aproxima o foco na relação entre pai e filho de uma família comum, O protagonista é Jack (Hunter McCraken na versão adolescente e Sean Penn na adulta), filho do Sr. e Sra. O’Brien (Brad Pitt e Jessica Chastain, respectivamente). Entre a infância e adolescência, Jack era bastante cobrado pelo pai no quesito comportamento. Por que ele nos machuca, o nosso pai?", pergunta o jovem. Talvez seja o luto pelo familiar perdido (o irmão mais novo morre aos 19 anos), talvez seja o rancor por não ter seguido sua vocação, mas o fato é que a educação intransigente do pai, o Sr.O’Brien, desfalca o primogênito até a vida adulta.


Com o passar dos anos, alheio aos dias de hoje, Jack (agora interpretado por Sean Penn) busca aprender nas coisas da vida, qual o seu papel e missão neste mundo. Torna-se uma pessoa solitária, deprimida e cheia de questionamentos, numa briga interna e constante do seu eu com sua família, seu modo de vida e no seu trabalho no mundo moderno. E Deus onde entra nesta hora?

  


Sempre presente na contraluz da hora mágica, a graça divina entra como feixes de luz na natureza em meio às cenas que passam e constroem os anos na vida de Jack. Em alguns momentos, vemos registros grandiosos da criação do mundo com o relato científico do Big Bang o que te leva a esvaziar sua mente e entrar de forma crítica e presente no contexto do filme, nas cenas banais onde Jack se ver sob a opressão de um adulto, seria seu seu pai? Estão num sótão que que te faz lembrar uma capela (onde recebeu os ensinamentos religiosos e que ver o pai aplicar ao longo das cenas)  e nos fatídicos, que mostra um afogamento de um colega de infância numa piscina do clube que frequentam, seria isso  uma forma de batismo?. “Ironicamente, porém, aqui o contato com o mundo não se traduz em pecado, mas em redenção” (Marcelo Hessel – crítico de cinema).
E onde está o lado mal do filme? A tentação? A dúvida entre seguir a força da graça ou da natureza?


Nesta hora temos uma leve lembrança do Livro de Jó: “Disse o Senhor a Satanás: "Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus, e se desvia do mal?" (Jó 1:6,8)”. Jó, porém, não blasfemou contra Deus, mas, ao invés disso, ele se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou ao Senhor; e disse: "nu saí do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá. Deus me deu, e Deus tirou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1:20-21).

  

Quando Jack acha que está se emancipando do pai (ainda adolescente, por volta dos 14 ou 15 anos), ele é convidado a sentir o gosto do "mal" - a vidraça quebrada, a espingarda de chumbo, os foguetes com as rãs - mas, como os pais contam em suas rodas de amigos, esses eventos não são casos isolados, são para ensinar moral: “A câmera do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki mimetiza, com seu constante vaivém, essas forças de atração e repulsa - como o balanço de madeira preso na árvore, que oferece mais perigo e mais recompensa quanto maior for seu arco” (diz Hessel)
Livro de Jó 38: “Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?

  

  
O filme em seu andamento expande a ótica desta rica relação, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão. O Diretor Mallick planejava fazer o filme desde 1970, quando notou as primeiras mudanças na vida das pessoas em relação à percepção de Deus e do mundo. Logo no comecinho do filme, vemos o diretor fazer o questionamento: “Existem duas maneiras de se viver: a maneira da natureza  e a maneira da graça, nós temos que escolher qual delas seguir”.  Ainda poderia dizer que você tem a escolha de passar pela porta larga ou a estreita. É possível viver o caminho da natureza, mundano, que satisfaz a si mesmo, ou o caminho da graça, absoluta e universal. Ao longo de 139 minutos, contudo, A Árvore da Vida nos sugere que esses dois rumos são complementares.


 A Árvore da Vida (The Tree of Life), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, é o novo filme do cineasta Terrence Malick (O Novo Mundo). Vale muito a pena conferir! Eu adorei. 





Informações Técnicas:
Título no Brasil:  A Árvore da Vida
Título Original:  The Tree of Life
País de Origem:  EUA
Gênero:  Drama
Classificação etária: 10 anos
Tempo de Duração: 139 minutos
Ano de Lançamento:  2011
Estréia no Brasil: 12/08/2011
Site Oficial:  
Estúdio/Distrib.:  Imagem Filmes
Direção:  Terrence Malick

Elenco: Brad Pitt ... Sr. O'Brien
Sean Penn ... Jack
Jessica Chastain ... Sra. O'Brien
Hunter McCracken ... Jack

2 comentários:

  1. A sua resenha Kyka, mostra o essencial do filme. Entretanto acredito que há uma reflexão de fundo filosófico que, acredito o autor desenvolve no filme numa perspectiva de Platão, na sua relação entre o mundo interior e exterior do indivíduo, sob a ótica do mito da caverna.

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  2. MUITO BOM ESSE FILME, FAZ UMA VIAGEM INTENSA DENTRO DE VOCÊ. MUITO BOA SUA RESENHA, ADOREI.

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