por Kyka Freitas (Administradora da Exxa Filmes)
“Existem duas maneiras de se viver: a maneira da natureza e a maneira da graça, nós temos que escolher qual delas seguir, então se um dia você cair e chorar: entenderá tudo!” (Terrence Malick)
“Existem duas maneiras de se viver: a maneira da natureza e a maneira da graça, nós temos que escolher qual delas seguir, então se um dia você cair e chorar: entenderá tudo!” (Terrence Malick)
Esse é o principal conceito do filme “A Árvore da Vida”, com Brad Pitt no elenco. Ontem fui ao cinema para asistí-lo, mas antes, reencontro no hall de entrada, um padre amigo meu, e ao ser questionada sobre que filme eu iria assistir, ele me diz: “eu também estou com muita vontade de assistir a este filme, mas precisa ser num dia que você não esteja cansado e que possa prestar muita atenção, porque o filme vai te mostrar um lado muito forte, o espiritual! É preciso estar aberto para isso!”
Justamente, ele tinha razão: “O filme mais religioso de Terrence Malick trata o contato com o mundo não como pecado, mas como redenção". (Marcelo Hessel)
Segundo a Bíblia, a Árvore da Vida (verdadeira sabedoria) é uma das duas árvores especiais que Deus colocou no centro do jardim chamado Éden. A outra é a "Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal", de cujo fruto, Eva, e depois Adão, acabaram por comer por influência de uma serpente. (Gênesis 2:9)
O filme “A Árvore da Vida” oscila entre os anos 50 e um futuro não tão distante, aproxima o foco na relação entre pai e filho de uma família comum, O protagonista é Jack (Hunter McCraken na versão adolescente e Sean Penn na adulta), filho do Sr. e Sra. O’Brien (Brad Pitt e Jessica Chastain, respectivamente). Entre a infância e adolescência, Jack era bastante cobrado pelo pai no quesito comportamento. “Por que ele nos machuca, o nosso pai?", pergunta o jovem. Talvez seja o luto pelo familiar perdido (o irmão mais novo morre aos 19 anos), talvez seja o rancor por não ter seguido sua vocação, mas o fato é que a educação intransigente do pai, o Sr.O’Brien, desfalca o primogênito até a vida adulta.
Com o passar dos anos, alheio aos dias de hoje, Jack (agora interpretado por Sean Penn) busca aprender nas coisas da vida, qual o seu papel e missão neste mundo. Torna-se uma pessoa solitária, deprimida e cheia de questionamentos, numa briga interna e constante do seu eu com sua família, seu modo de vida e no seu trabalho no mundo moderno. E Deus onde entra nesta hora?
Sempre presente na contraluz da hora mágica, a graça divina entra como feixes de luz na natureza em meio às cenas que passam e constroem os anos na vida de Jack. Em alguns momentos, vemos registros grandiosos da criação do mundo com o relato científico do Big Bang o que te leva a esvaziar sua mente e entrar de forma crítica e presente no contexto do filme, nas cenas banais onde Jack se ver sob a opressão de um adulto, seria seu seu pai? Estão num sótão que que te faz lembrar uma capela (onde recebeu os ensinamentos religiosos e que ver o pai aplicar ao longo das cenas) e nos fatídicos, que mostra um afogamento de um colega de infância numa piscina do clube que frequentam, seria isso uma forma de batismo?. “Ironicamente, porém, aqui o contato com o mundo não se traduz em pecado, mas em redenção” (Marcelo Hessel – crítico de cinema).
E onde está o lado mal do filme? A tentação? A dúvida entre seguir a força da graça ou da natureza?
Nesta hora temos uma leve lembrança do Livro de Jó: “Disse o Senhor a Satanás: "Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus, e se desvia do mal?" (Jó 1:6,8)”. Jó, porém, não blasfemou contra Deus, mas, ao invés disso, ele se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou ao Senhor; e disse: "nu saí do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá. Deus me deu, e Deus tirou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1:20-21).
Quando Jack acha que está se emancipando do pai (ainda adolescente, por volta dos 14 ou 15 anos), ele é convidado a sentir o gosto do "mal" - a vidraça quebrada, a espingarda de chumbo, os foguetes com as rãs - mas, como os pais contam em suas rodas de amigos, esses eventos não são casos isolados, são para ensinar moral: “A câmera do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki mimetiza, com seu constante vaivém, essas forças de atração e repulsa - como o balanço de madeira preso na árvore, que oferece mais perigo e mais recompensa quanto maior for seu arco” (diz Hessel)
Livro de Jó 38: “Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?”
O filme em seu andamento expande a ótica desta rica relação, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão. O Diretor Mallick planejava fazer o filme desde 1970, quando notou as primeiras mudanças na vida das pessoas em relação à percepção de Deus e do mundo. Logo no comecinho do filme, vemos o diretor fazer o questionamento: “Existem duas maneiras de se viver: a maneira da natureza e a maneira da graça, nós temos que escolher qual delas seguir”. Ainda poderia dizer que você tem a escolha de passar pela porta larga ou a estreita. É possível viver o caminho da natureza, mundano, que satisfaz a si mesmo, ou o caminho da graça, absoluta e universal. Ao longo de 139 minutos, contudo, A Árvore da Vida nos sugere que esses dois rumos são complementares.
A Árvore da Vida (The Tree of Life), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, é o novo filme do cineasta Terrence Malick (O Novo Mundo). Vale muito a pena conferir! Eu adorei.
Informações Técnicas:
Título no Brasil: A Árvore da Vida
Título Original: The Tree of Life
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Classificação etária: 10 anos
Tempo de Duração: 139 minutos
Ano de Lançamento: 2011
Estréia no Brasil: 12/08/2011
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes
Direção: Terrence Malick
Título no Brasil: A Árvore da Vida
Título Original: The Tree of Life
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Classificação etária: 10 anos
Tempo de Duração: 139 minutos
Ano de Lançamento: 2011
Estréia no Brasil: 12/08/2011
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes
Direção: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt ... Sr. O'Brien
Sean Penn ... Jack
Jessica Chastain ... Sra. O'Brien
Hunter McCracken ... Jack
Sean Penn ... Jack
Jessica Chastain ... Sra. O'Brien
Hunter McCracken ... Jack
A sua resenha Kyka, mostra o essencial do filme. Entretanto acredito que há uma reflexão de fundo filosófico que, acredito o autor desenvolve no filme numa perspectiva de Platão, na sua relação entre o mundo interior e exterior do indivíduo, sob a ótica do mito da caverna.
ResponderExcluirMUITO BOM ESSE FILME, FAZ UMA VIAGEM INTENSA DENTRO DE VOCÊ. MUITO BOA SUA RESENHA, ADOREI.
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