31/10/2012

Filme O Palhaço | Crítica

Agora na Exxa Filmes, DVD O Palhaço. 
Depois de faltar nas prateleiras, devido as premiações que vem recebendo, o DVD O Palhaço de Selton Mello, volta para as videolocadoras. O ator recorre à imagem do circense melancólico para homenagear a tradição verbal do humor brasileiro.
Acompanhe mais aqui nessa resenha de  Marcelo Hessel - 27 de Outubro de 2011

Dizem que o circo é uma família, e a de Benjamin (Selton Mello) está em crise.Enquanto todos 
ao seu redor estão em harmonia em seus laços - o casal de acrobatas, os irmãos músicos, 
o ilusionista e sua filha - o palhaço conversa pouco com seu pai (Paulo José), também 
palhaço e dono do picadeiro. Existe algo incomodando Benjamin em O Palhaço, e não parece
 ser somente a pressão para comprar um ventilador novo para a namorada do pai, Lola 
(Giselle Motta), a dançarina do circo.
Em entrevistas, Selton Mello diz que este seu segundo longa-metragem como diretor, depois
 de Feliz Natal, não tem nada de autobiográfico. O ponto de partida, porém, foi a crise criativa que tomou o ator em 2009 - o artista que se questiona no filme e que vai atrás da sua 
identidade (literalmente, já que Benjamin tem só uma certidão de nascimento caindo aos pedaços) seria uma forma de encarar e curar essa crise.
Não é inédita, de qualquer forma, a imagem do palhaço triste, que pinta um sorriso sobre
 a boca, faz todos rirem mas chora por dentro. Ela é quase indissociável da arte do circo 
durante o século 20, quando o ocaso dos espetáculos itinerantes, substituídos pelo 
cinema, rendeu filmes melancólicos como Os Palhaços (1970), de Fellini. Não por acaso, 
Mello cita entre suas referências para o filme alguns ícones da memória afetiva do humor:Jacques Tati, Oscarito, Didi Mocó.
O Palhaço tem um pouco de Wes Anderson também. Por onde passam, Benjamin e 
sua trupe são mostrados com aqueles enquadramentos geométricos de tableau 
vivantque marcam o cinema de Anderson - e Benjamin, com sua fala engasgada e sua
 postura reta, de quem enrijeceu com tantos dilemas mal resolvidos, bem que podia ser 
um dos excêntricos Tenenbaums.
O que torna o filme particular, e não só um apanhado de (boas) referências, é que elas
 estão servindo em O Palhaço para fazer um elogio autêntico da tradição brasileira do 
humor verbal. Os enquadramentos geométricos transformam toda situação num palco 
em potencial. Quando Benjamin e os demais encontram o mecânico ou o delegado 
(Tonico Pereira e Moacir Franco em suas respectivas participações especiais), os personagens são dispostos na cena para que um fique no "palco" (a oficina, a mesa do 
delegado) e os demais fiquem na "plateia" (o banco dos réus onde Benjamin se senta).


No fundo, é nessa homenagem a nomes da comédia nacional que Selton Mello - e 
Benjamin - encontra a cura da sua crise. É uma cura pela coletividade, por sentir-se 
parte de algo, sentimento que tem uma boa expressão justamente no mundo do circo.
Isso fica mais do que evidente no plano (também geométrico) em que Jorge Loredo 
conta uma piada, sentado na ponta de uma mesa. A piada nem é tão boa assim, mas a interpretação do eterno Zé Bonitinho a melhora consideravelmente. Na outra ponta da 
mesa, de novo em posição de plateia, Benjamin sorri de verdade, enfim encontrou 
alguém que o fizesse rir.

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