Depois de faltar nas prateleiras, devido as premiações que vem recebendo, o DVD O Palhaço de Selton Mello, volta para as videolocadoras. O ator recorre à imagem do circense melancólico para homenagear a tradição verbal do humor brasileiro.
Acompanhe mais aqui nessa resenha de Marcelo Hessel - 27 de Outubro de 2011
Dizem que o circo é uma família, e a de Benjamin (Selton Mello) está em crise.Enquanto todos
ao seu redor estão em harmonia em seus laços - o casal de acrobatas, os irmãos músicos,
o ilusionista e sua filha - o palhaço conversa pouco com seu pai (Paulo José), também
palhaço e dono do picadeiro. Existe algo incomodando Benjamin em O Palhaço, e não parece
ser somente a pressão para comprar um ventilador novo para a namorada do pai, Lola
(Giselle Motta), a dançarina do circo.
o ilusionista e sua filha - o palhaço conversa pouco com seu pai (Paulo José), também
palhaço e dono do picadeiro. Existe algo incomodando Benjamin em O Palhaço, e não parece
ser somente a pressão para comprar um ventilador novo para a namorada do pai, Lola
(Giselle Motta), a dançarina do circo.
Em entrevistas, Selton Mello diz que este seu segundo longa-metragem como diretor, depois
de Feliz Natal, não tem nada de autobiográfico. O ponto de partida, porém, foi a crise criativa que tomou o ator em 2009 - o artista que se questiona no filme e que vai atrás da sua
identidade (literalmente, já que Benjamin tem só uma certidão de nascimento caindo aos pedaços) seria uma forma de encarar e curar essa crise.
de Feliz Natal, não tem nada de autobiográfico. O ponto de partida, porém, foi a crise criativa que tomou o ator em 2009 - o artista que se questiona no filme e que vai atrás da sua
identidade (literalmente, já que Benjamin tem só uma certidão de nascimento caindo aos pedaços) seria uma forma de encarar e curar essa crise.
Não é inédita, de qualquer forma, a imagem do palhaço triste, que pinta um sorriso sobre
a boca, faz todos rirem mas chora por dentro. Ela é quase indissociável da arte do circo
durante o século 20, quando o ocaso dos espetáculos itinerantes, substituídos pelo
cinema, rendeu filmes melancólicos como Os Palhaços (1970), de Fellini. Não por acaso,
Mello cita entre suas referências para o filme alguns ícones da memória afetiva do humor:Jacques Tati, Oscarito, Didi Mocó.
a boca, faz todos rirem mas chora por dentro. Ela é quase indissociável da arte do circo
durante o século 20, quando o ocaso dos espetáculos itinerantes, substituídos pelo
cinema, rendeu filmes melancólicos como Os Palhaços (1970), de Fellini. Não por acaso,
Mello cita entre suas referências para o filme alguns ícones da memória afetiva do humor:Jacques Tati, Oscarito, Didi Mocó.
O Palhaço tem um pouco de Wes Anderson também. Por onde passam, Benjamin e
sua trupe são mostrados com aqueles enquadramentos geométricos de tableau
vivantque marcam o cinema de Anderson - e Benjamin, com sua fala engasgada e sua
postura reta, de quem enrijeceu com tantos dilemas mal resolvidos, bem que podia ser
um dos excêntricos Tenenbaums.
sua trupe são mostrados com aqueles enquadramentos geométricos de tableau
vivantque marcam o cinema de Anderson - e Benjamin, com sua fala engasgada e sua
postura reta, de quem enrijeceu com tantos dilemas mal resolvidos, bem que podia ser
um dos excêntricos Tenenbaums.
O que torna o filme particular, e não só um apanhado de (boas) referências, é que elas
estão servindo em O Palhaço para fazer um elogio autêntico da tradição brasileira do
humor verbal. Os enquadramentos geométricos transformam toda situação num palco
em potencial. Quando Benjamin e os demais encontram o mecânico ou o delegado
(Tonico Pereira e Moacir Franco em suas respectivas participações especiais), os personagens são dispostos na cena para que um fique no "palco" (a oficina, a mesa do
delegado) e os demais fiquem na "plateia" (o banco dos réus onde Benjamin se senta).
estão servindo em O Palhaço para fazer um elogio autêntico da tradição brasileira do
humor verbal. Os enquadramentos geométricos transformam toda situação num palco
em potencial. Quando Benjamin e os demais encontram o mecânico ou o delegado
(Tonico Pereira e Moacir Franco em suas respectivas participações especiais), os personagens são dispostos na cena para que um fique no "palco" (a oficina, a mesa do
delegado) e os demais fiquem na "plateia" (o banco dos réus onde Benjamin se senta).
No fundo, é nessa homenagem a nomes da comédia nacional que Selton Mello - e
Benjamin - encontra a cura da sua crise. É uma cura pela coletividade, por sentir-se
parte de algo, sentimento que tem uma boa expressão justamente no mundo do circo.
Benjamin - encontra a cura da sua crise. É uma cura pela coletividade, por sentir-se
parte de algo, sentimento que tem uma boa expressão justamente no mundo do circo.
Isso fica mais do que evidente no plano (também geométrico) em que Jorge Loredo
conta uma piada, sentado na ponta de uma mesa. A piada nem é tão boa assim, mas a interpretação do eterno Zé Bonitinho a melhora consideravelmente. Na outra ponta da
mesa, de novo em posição de plateia, Benjamin sorri de verdade, enfim encontrou
alguém que o fizesse rir.
conta uma piada, sentado na ponta de uma mesa. A piada nem é tão boa assim, mas a interpretação do eterno Zé Bonitinho a melhora consideravelmente. Na outra ponta da
mesa, de novo em posição de plateia, Benjamin sorri de verdade, enfim encontrou
alguém que o fizesse rir.
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