Publicado em 22/01/2011 por Alexandre Carlomagno
Utilizando a Teoria do Caos para propagar visão pungente e nada alegre sobre o mundo, trilogia de filmes acaba por construir corpo e alma com vida própria.
Intitulada pelo próprio diretor como Trilogia do Caos, o mexicano Alejandro Gonzáles Iñarritu criou em seus três primeiros longas-metragens um retrato relevante e afiado sobre a relação humana. Partindo da Teoria do Caos, que diz que o bater das asas de uma borboleta pode causar um furacão (resumidamente falando), Amores Brutos (2000), 21 Gramas (2003) e Babel (2006) formam um emaranhado de personagens cujos anseios são, antes de qualquer coisa, o de darem seguimento às suas respectivas vidas. Porém, tais cursos são desviados ou interrompidos (direta ou indiretamente, abrupta ou singelamente) pela interação com as pessoas.
Quanto ao formato dado à trilogia, dizer que a narrativa fragmentada tão utilizada por Iñárritu é um artifício repetitivo, batido, é o mesmo que dizer isso sobre a narrativa linear. Tanto uma quanto a outra, servindo a propósitos, devem ser usadas pelo o que são: ferramentas de narração. Em Amores Brutos, o desmembramento serve a uma ideia enquanto fio condutor; em 21 Gramas, a dramaticidade é elevada às alturas pelo mosaico de cenas; e em Babel transformar a narrativa em estilhaços não atende ao quesito, mas o quesito em si já é o bastante.
Em Amores Brutos é jogada a ideia: três pessoas distintas, que nunca se viram ou sequer se conhecem, interferem uma na vida da outra através de um acidente de carro. É este acidente o cerne dramático do longa, o divisor de águas para aqueles personagens. Antes, paixões, vontades, metas e o futuro. Depois, a incerteza do que está por vir, a insegurança.
No caso de 21 Grama há grandes diferenças apesar de certa similaridade – mais uma vez, um acidente de carro tem papel crucial. No entanto, ao contrário do metal distorcido e inutilizado que refletia na frieza (distância) entre os personagens de Amores Brutos, aqui é a relação entre eles que ganha destaque. A montagem toda entrecortada e propositalmente embaralhada traz um maior requinte e reforça mais ainda os aspectos dramáticos da trama.
Já em Babel temos um ápice conceitual. Apesar da narrativa fragmentada já não funcionar (a não linearidade é desnecessária enquanto reforço dramático, o que acaba soando apenas como exibicionismo), é a ideia plantada lá no início, emAmores Brutos, que cria corpo. Usando a Torre de Babel e consequentemente sua miscelânea linguística como analogia, Iñárritu monta uma torre com personagens para alcançar o Deus que mais intervém na vida dos seres humanos: o próprio ser humano.
Essa torre pode ser vista enquanto uma pessoa, um ser vivo, um Frankenstein por assim dizer, com cada membro, personagem, formando uma determinada fase deste ser. Debbie e Mike, filhos do casal americano que vão para o México: infância; Yussef e Ahmed, dois garotos marroquinos: pré-adolescência; Chieko, a garota japonesa surda e muda: adolescência; Amelia, a mexicana responsável por Debbie e Mike que os leva até um casamento, e os pais das crianças, Richard e Susan: vida adulta e aproximação com a morte.
Todos eles experimentam as mais terríveis situações provocadas pela negligência e o descaso de outra pessoa, sempre dentro de um contexto condizente com suas realidades. Debbie e Mike são duas crianças que passam por um trauma justamente por não terem autonomia. Yussef, o mais novo, em plena puberdade, e Ahmed, o mais velho, travam a típica disputa de superioridade entre irmãos enquanto tentam chamar a atenção do pai, e com isso geram um desastre. Chieko, por não falar e nem ouvir, possui uma percepção diferente do que está ao se redor, obviamente, e é vista como uma observadora, um intrusa no seu próprio mundo, apesar de nutrir os mesmo sentimentos e vontades que as outras pessoas – ela se vê deslocada devido à maneira como a sociedade lhe vê. Amelia, uma mexicana que trabalhou nos EUA por 16 anos, e que por um ato irresponsável culmina em outro de maior magnitude, faz a ponte narrativa entre o casamento, o matrimônio em si. E o casal de americanos, por sua vez, vive uma relação na qual a infelicidade é acometida pelos próprios – eles mesmos prejudicam um ao outro e são vítimas de suas próprias insatisfações.
Como um ser vivo que anda cambaleante por entre vidas, Babel traça uma linha entre as diversas culturas, dialetos, e o ser humano que é mais tênue e perigosa do que aparenta justamente por sermos todos, no final das contas, seres humanos. Ou seja, apesar das diferenças nós dividimos os mesmos sentimentos, anseios, vontades, as mesmas emoções e, nesse sentido, a mesma percepção do mundo. O único – e maior – problema, segundo Iñárritu e a sua Trilogia do Caos, é que o caminho traçado pelo ser humano pode ser drasticamente desvirtuado unicamente por ele mesmo.
Amores Perros – 2000 – 5/5.
21 Grams – 2003 – 5/5.
Babel – 2006 – 4/5.
Resumo: Considerado uma das revelações do atual cinema mexicano, o filme narra três histórias de pessoas que têm em comum os conflitos afetivos e o amor incondicional pelos cães. A trajetória destes três personagens - um rapaz que vive no subúrbio, uma modelo famosa e um mendigo - se entrelaça numa violenta batida de automóvel. Diretor: ALEJANDRO GONZALES INARRITU Elenco: EMILIO ECHEVARRIA & GAEL GARCIA BERNAL & GOYA TOLEDO & VANESSA BAUCHE Classificação / Faixa Etária: 14 ANOS Duração:143 MIN Origem: EUA Idioma: Inglês / Português legenda: Inglês / Português Data de Lançamento: 2001 |
Resumo: Paul Rivers é um matemático que ganhou um novo coração e precisa agarrar essa segunda chance. Cristina Peck é uma mãe que perdeu toda a família e se volta às drogas como consolo. E Jack Jordan é um ex-presidiário que busca na Bíblia a redenção, mas se envolve num trágico acidente. Três histórias que se entrelaçam numa trama que não deixa o espectador tirar o olho da tela. Diretor: Alejandro Gonzales Elenco: Sean Bean, Benicio Del Toro e Naomi Watts Classificação / Faixa Etária: 16 anos Duração:125 min Origem: EUA Idioma: Inglês / Português legenda: Inglês / Português Data de Lançamento: 2004 |
Resumo: A dor é universal... Mas também a esperança. Terceiro filme da trilogia do aclamado diretor Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos, 21 Gramas), Babel é um emocionante e envolvente filme sobre as barreiras que separam a humanidade. Um trágico acidente no Marrocos deflagra uma sucessão de eventos que irão ligar quatro grupos de pessoas, divididas por diferenças culturais e longas distâncias, que vão compartilhar um destino que vai conectá-los definitivamente. Diretor: Alejandro Gonzales Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchet e Gael Garcia Bernal Classificação / Faixa Etária: 16 anos Duração:143 min Origem: EUA Idioma: Inglês / Português legenda: Inglês / Português Data de Lançamento: 2007 |
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